terça-feira, 18 de junho de 2013

Fiel como um cão aos fãs


Na noite em que as vozes se levantaram por todo o Brasil para protestar contra aumento das passagens Copa das Confederações e outros desmandos, uma das principais vozes do grunge de Seattle, Chris Cornell, que foi vocalista de bandas como Soundgarden, Audioslave e do projeto Temple of the Dog, fez um show acústico que parecia mais um "Peça e Ofereça", da Caiçara, tamanha a escuta do músico de Seattle aos seus fãs que lotaram a plateia do Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre, na noite desta segunda-feira, deixando espaços no mezzanino e nas galerias. Foram 22 músicas durante 1h50min na agitada noite desta segunda-feira, dia 17 de junho de 2013. 

Na terceira apresentação deste seu show acústico, Chris Cornell, entrou no palco com 35 minutos de atraso (21h35min) com seus violões e a sua voz vibrante para atender a pedidos de fãs e contar algumas histórias interessantes da sua carreira de quase 30 anos de estrada. O músico iniciou a apresentação com três músicas da carreira solo: "Scar on the Sky", "As Hope and Promise Fade" e "Ground Zero", esta última pelo nome dedicada ao Marco Zero no local onde foram derrubadas as Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. 

Após tocar a música em homenagem ao amigo Andrew Wood, da banda Mother Love of Bone, morto por overdose de heroína em 1990, chamada "Say Hello to Heaven", Cornell usou o seu bom humor para explicar que a música "Finally Forever", do disco solo "Carry On" foi escrita para o seu próprio casamento e depois foi utilizada em um comercial de basquete da NBA, o que foi estranho para ele. 



No estilo "Peça e Ofereça", quando estava dedilhando os acordes de uma outra música, ao pedido de "Call me a Dog", do Temple of the Dog, feito por uma fã, mudou o tom e cantou a música pedida, fiel como um cão aos seus fãs. Assim tocou outras canções das três bandas pelas quais passou, como "Hunger Strike", "Seasons", "I Am the Highway", "Fell on Black Days", "Doesn´t Remind Me", "Be Yourself" e "Wide Awake", esta com aquela guturalidade e alcance rasgado que Cornell, Eddie Vedder e Kurt Cobain nos legaram. 

Na hora de um dos pedidos, diante de tantas vozes, o homem do norte dos Estados Unidos fez uma homenagem ao Sul. "Eu ouvi Hotel Califórnia" e tocou a música dos Eagles numa versão lânguida e pungente, num dos poucos covers da noite, pois quando alguém gritou "Billie Jean", de Michael Jackson, a reação foi mais negativa do que positiva. O show foi encerrado com "Blow Up the Outside World", cheia de efeitos, distorções e ecos, deixando o palco vazio para quase cinco minutos de aplausos esperançosos pela volta de Cornell. Mais um daqueles shows que os fãs não acreditam estar perto do seu ídolo pela primeira vez. 

Fotos: Luiz Gonzaga Lopes 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

UFO pela primeira vez em Porto Alegre




O ano de 2013 está sendo prolífico para primeiras apresentações na capital gaúcha de grandes músicos com o nome já gravado na história do rock. Após apresentações de Elton John, Accept e Rufus Wainwright – que se apresenta nesta sexta –, agora é a vez da banda britânica que marcou a história do final dos anos 1960 para cá, o UFO, se apresentar pela primeira vez a Porto Alegre para o show da turnê "Seven Deadly" neste domingo, às 20h, no Teatro do CIEE (Dom Pedro II, 861). Informações no www.ingressorapido.com.br.

Com três membros de sua formação mais clássica - Phil Mogg (vocal), Paul Raymond (guitarra e teclados) e Andy Parker (bateria), além do guitar hero Vinnie Moore, a banda mostrará canções do novo disco "Seven Deadly", o 20º da carreira, além dos clássicos de 44 anos de serviços prestados ao rock, como "Doctor Doctor", "Rock Bottom", "Lights Out" e "Shoot, Shoot". O disco mais recente tem doze novas canções, foi gravado no Estúdio Steamhammer/SPV, na Alemanha, em 2012, com o acréscimo do baixista Lars Lehmann e músicos adicionais. Destaque para as músicas "Wonderland" e "Mojo Town".

A banda sempre se caracterizou por amalgamar talento, carisma e experiência e, principalmente, pela técnica individual de seus membros. Surgiu em Londres, em 1969, reunindo o vocalista Phil Mogg, o baterista Andy Parker, o guitarrista Mick Bolton e o baixista Pete Way. Nos anos 70, a banda se distinguiu com um estilo próprio, lançando clássicos como “Prince Kajuku”,“Follow you Home” e “C’mon Everybody”, em álbuns como "UFO 1", "Flying" e "UFO Live".

Em 1973, o guitarrista alemão Michael Schenker deixou o Scorpions e se juntou a Phil Mogg e Pete Way. Com ele, foram lançados o disco "Phenomenon" (1974), das clássicas "Doctor Doctor" e "Rock Bottom", além dos álbuns "Force It" (1975) e "No Heavy Pettin" (1976). Com a chegada do tecladista e guitarrista PaulRaymond, o grupo lançou mais dois discos de estúdio "Lights Out" (1977) e "Obsession" (1978).

Os álbuns "Covenant" e "Sharks", gravados por Mogg, Way e Schenker, chegaram as lojas em 2000 e 2002. Vinnie Moore assumiu o lugar de Schenker gravando canções em "You Are Here" (2004), com Jason Bonham, filho do lendário John Bonham, do Led Zeppelin, na bateria. Bonham gravou o CD e DVD "Showtime", em 2005 e fez sua despedida para o retorno do baterista original Andy Parker em "The Monkey Puzzle" (2006) e "The Visitor" (2009).

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O clube da música mais social das Américas

Omara Portuondo participa da apresentação neste domingo no Araújo Vianna


Crédito da foto: Lorenzo Di Nozzi / Divulgação

Quando ministrou conferência em Porto Alegre em agosto de 2008, o cineasta alemão Wim Wenders disse acreditar realmente que as histórias pessoais é que valiam a pena ser contadas. Por acreditar nisso que Wim Wenders foi um dos responsáveis por popularizar o disco "Buena Vista Social Club", que Ry Cooder havia lançado com músicos cubanos que estavam meio no ostracismo em 1997, com o lançamento em 1999 do documentário homônimo. 



De lá para cá, apesar de perdas como as mortes de Compay Segundo (2003) e Ibrahim Ferrer (2005), a Orquesta Buena Vista Social Club segue encantando o mundo com o melhor da música cubana, do mambo ao bolero, da rumba à guajira. Neste domingo, dia 5, às 19h, no Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 895) o grupo apresenta a turnê de celebração de 15 anos do lançamento do disco (16 anos em 2013), com participação especial da cantora Omara Portuondo. A abertura será do músico gaúcho Eduardo Ferreira.

No repertório, devem estar presentes as clássicas "Chan Chan", "El Cuarto de Tula", "Dos Gardenias" e "De Camino a La Vereda", esta em homenagem a Ibrahim Ferrer. O diretor musical da orquestra, o trombonista Jesús "Aguaje" Ramos - remanescente da formação original, junto com Guajiro Mirabal (trompete) e Barbarito Torres (alaúde), fala em entrevista a este blogueiro (reproduzida também no site do Correio do Povo) sobre a longevidade do projeto da orquestra, a participação de Omara Portuondo no concerto e sobre os brasileiros, considerados "irmãos" dos cubanos pelo músico.






Pergunta - O que a orquestra tem a celebrar nestes mais de 15 anos do lançamento do disco?

Jesús "Aguaje" Ramos - Sobretudo temos que celebrar a oportunidade que a vida nos dá de seguir desfrutando do que mais gostamos, que é a música. Para nós, é um autêntico luxo poder seguir girando pelo mundo e levando nossas tradições e cultural por onde vamos.

Crédito da foto: Dunja Dopsaj / Divulgação 




Pergunta - O que mudou na música cubana e caribenha desde então? 

Jesús - A verdade é que a cultura musical cubana é muito ampla e ao mesmo tempo muito respeitosa. Há uma tradição e uma cultura musical muito profunda na ilha. Os músicos recebem uma base muito boa e ao mesmo tempo estamos abertos a experimentar novos ritmos e sons.

Pergunta - Que músicos podemos destacar na formação atual da orquestra?

Jesús - Da formação original continuamos hoje em dia Omara Portuondo, Barbarito Torres, Guajiro Mirabal e este que fala, Jesús Aguaje Ramos. Além destes, contamos com a presença de um grupo de músicos jovens e muito talentosos como os cantores Calunga e Idania Valdez, assim como Guajirito Mirabal, neto de Guajiro e Rolando Luna ao piano. Eles nos apontam o frescor e a energia, além de serem excelentes músicos.

Pergunta - Como será a participação de Omara Portuondo no show?

Jesús - Para nós será sempre um prazer que a senhora Portuondo nos acompanhe nas turnês da Orquesta Buena Vista. Ela interpretará clásicos como "Veinte Años" e "Quizás Quizás Quizás" e também alguma outra surpresa que não revelaremos. Melhor que vejam ali mesmo, na hora.

Pergunta - Qual o sentimento de vocês em relação ao público brasileiro?

Jesús - Para nós falar do público brasileiro é como falar de irmãos. Vamos tocar para nossos irmãos. Nos identificamos muito com a sua gente, sua cultura e sua tradição musical. Na última vez em que estivemos no Brasil em 2011, fomos convidados para assistir a um ensaio da escola de samba Portela. Foi uma experiência muito especial. Verdadeiramente nos sentimos da mesma família, compartilhando o mesmo pensamento e sentimento em muitos sentidos”.


Pergunta - Como vocês lidam com perdas (mortes) como as de Compay Segundo e Ibrahim Ferrer? 


Jesús - As perdas são sempre muito duras de aceitar, principalmente quando são pessoas tão próximas e que participaram tão ativamente do projeto. Para nós, é muito importante continuar com o legado deles, rendendo uma homenagem especial em cada concerto, interpretando alguns de seus temas ao vivo, como é o caso de Ibrahim Ferrer, com o tema "De Camino a La Vereda". 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A censura pelo Nobel de Literatura


  O escritor sul-africano J. M. Coetzee, Prêmio Nobel de Literatura de 2003, falou sobre censura durante uma hora e autografou outra hora inteira algumas de suas obras lançadas no Brasil como "Desonra", "Verão" e "A Infância de Jesus", diante de um Salão de Atos da Ufrgs com metade de sua lotação, na noite desta quinta-feira, dia 18 de abril. Coetzee falou como convidado especial da Difusão Cultural e do Núcleo Filosofia-Literatura-Arte da Ufrgs, sendo apresentado pela ensaísta e professora Kathrin Rosenfield, especialista em sua obra.

O tema da censura é retomado constantemente em sua obra e o autor dedicou ao tema um livro de ensaios ("Giving Offense", de 1996). Morando atualmente na Austália, onde leciona na Universidade de Adelaide, Coetzee destacou que na palestra queria retomar a censura nos anos 70 e 80 na África do Sul. O seu primeiro romance "Dusklands" foi publicado em 1974. O Nobel lembrou que teve acesso a relatórios de censura de três dos seus livros "No Coração do País", "À Espera dos Bárbaros" e "Vida e Obra de Michael K", que chegaram a suas mãos por parte de Herman Winterberg, quando o poder político passou para o governo popular na África do Sul. "Os meus livros foram todos publicados e os censores alegavam nos seus relatórios que o livro não podia ser considerado 'indesejável', pois quando falava de tortura ou brutalidade (como é o caso de à Espera dos Bárbaros) o simbolismo era universal e era lido por leitores sofisticados, intelectuais".



Depois de um tempo, Coetzee acabou conhecendo alguns deles que eram professores aposentados da Universidade da Cidade do Cabo, onde Coetzee nasceu, e conviviam normalmente em sociedade. "Estas pessoas acabavam não achando estranho ter relações cordiais comigo. Estes censores pensam em si como pessoas civilizadas", ressaltou, citando o exemplo do czar Nicolau I, que se ofereceu para ser o censor pessoal de Aleksander Púshkin, para protegê-lo da análise de funcionários ordinários do czarismo.

Segundo Coetzee, eles não queriam livros que incitassem as massas ou que reproduzissem a propaganda comunista ou o pensamento de Karl Marx. "Queria entender porque eu recebi um tratamento especial. Primeiro porque sou branco, mesmo que não um afrikaner puro. Segundo porque vim da inteligentsia, a mesma classe dos censores. Terceiro que meus livros não eram populares e nem para as massas. Quando eles negaram a publicação de um livro ou o consideraram um objeto indesejado acabaram reproduzindo o mesmo sentimento totalitário de outros regimes ao longo da história. Hoje fizemos algum progresso em relação àquela época, mas é importante alertarmos ainda os países que vivem sob censura", finalizou.

Fotos: Luiz Gonzaga Lopes

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mestre do blues Johnny Winter na capital gaúcha em agosto

Winter se apresentou no Sesi em 21 de maio de 2010

Crédito da foto: Fabiano do Amaral / Correio do Povo

Após passar pela capital gaúcha no dia 21 de maio de 2010, em apresentação no Teatro do Sesi, o guitarrista texano Johnny Winter (John Dawson Winter III), de 67 anos, considerado por muitos um dos mestres brancos do blues, pois o posto negro continua com B.B. King e Buddy Guy, volta a se apresentar em Porto Alegre no dia 27 de agosto, às 21h, no Teatro do Bourbon Country. As datas dos shows no Brasil que incluem Curitiba, em 29 de agosto, no Teatro Positivo; São Paulo, dia 30, no HSBC Brasil, e Rio de Janeiro, dia 31, no Vivo Rio, estão publicadas no próprio site do músico pelo endereço www.johnnywinter.net.  

O guitarrista albino, irmão de Edgar Winter, nascido em Beaumont em 27 de fevereiro de 1944, já foi considerado o 63º melhor guitarrista de todos os tempos pela revista norte-americana Rolling Stone. Seu primeiro disco "School Day Blues" foi lançado quando Winter tinha 15 anos de idade. Em 1968 ele começou a tocar em um trio com o baixista Tommy Shannon e o baterista Uncle John Turner. Em 1969 o trio se apresentou em vários festivais, incluindo o lendário Woodstock. Em 1988 ele foi incluído no "Hall da Fama do Blues".

O disco mais recente de estúdio é "I'm A Bluesman", de 2004. Entre 1969 e 2004, Winter gravou cerca de álbuns de estúdio e ao vivo, sozinho, banda e com o irmão Edgar Winter. O show passa por Amsterdam (Paradiso) neste dia 12 de abril e segue para Londres no domingo e outras cidades inglesas e da Grécia até o fim deste mês de abril. Confira o setlist do show de Chicago no dia 5 de março (conforme o site setlist.fm).
  1. (Larry Williams cover)
  2. (Bobby Womack cover)
  3. Encore:
 




sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cícero Galeno desnuda seu eu lírico

Meu amigo, conhecido por seu trabalho acadêmico e pela excelente produção de contos, Cícero Galeno Lopes está desnudando o seu eu lírico ao lançando o livro de poesias Vidamundo, pela editora Movimento, nesta sexta-feira, dia 24, às 19h, na Palavraria Livraria & Café (Vasco da Gama, 165, Bom Fim). A obra reúne 67 poemas resultantes de cinco anos de trabalho, com apresentação de Rafael Peruzzo Jardim, que fará a apresentação da obra. O professor José Édil de Lima Alves fará a leitura de alguns poemas de Cícero. Grifo meu para Minha América Latina, um poema com ares épicos à maneira de Neruda. O livro terá lançamento ainda em Gramado (2/9), em Caxias do Sul (12/10), Uruguaiana (cidade natal de Cícero) e Vacaria (ainda sem datas definidas).

Cícero é Licenciado (UCPel), Especialista (UFSM), Mestre (PUCRS) e Doutor (UFRGS) em Letras. Como docente de ensino superior, dedica-se à literatura brasileira, de modo especial à sul-riograndense. Como editor, planejou, criou, editou e consolidou revistas acadêmico-científicas e cadernos universitários, entre 1996 e 2004. É autor de ficção (contos) em obras próprias (Conto e Ponto, A Curva da Estrada e A Viagem) e coletivas. Ensaísta em periódicos especializados e em livros coletivos e próprios, Cícero conta em entrevista o porquê do lançamento da primeira obra em poesia, analisa a poesia brasileira atual e trata de outros assuntos.

Pergunta  - O conto e a produção acadêmica sempre permearam a tua obra. Por que a opção por publicar a tua poesia neste ano?
Resposta - A produção acadêmica tem trajetória própria. Tem também vida mais efêmera, embora trabalhos escritos às vezes permaneçam por algum tempo, às vezes também com repercussão boa. A compensação é a pequena contribuição que se possa fazer ao conhecimento. Ficam no âmbito da comunicação. Contos e poemas são formas, ou pretendem ser, de expressão, ou seja, esforço em busca da arte. O conto se presta ao trabalho cuidadoso de construção de narrador, personagens, discurso, mais que qualquer outra forma da prosa. Poemas tendem a ser superação disso. Poema exige construção temática, trabalho elaborativo ótico e fônico, que inclui sonorizações – ritmos, rimas, sugestividades. A poesia se aproxima bastante da música e, como tal, pode ser menos objetiva e mais sugestiva.

P - Todos os teus poemas foram para "Vidamundo" ou houve uma seleção criteriosa para chegar nestes 67?
R - "
Vidamundo" é uma seleção de textos de mais de cinco anos. Professor trabalha muito, normalmente demais. Foi meu caso. Agora pude selecionar, reunir poemas, submetê-los ao editor. Meu editor foi professor de literatura; é excelente leitor. Ele me ajuda na seleção; da minha seleção pra Vidamundo, ele sugeriu supressões. Um poema suprimido por mim foi mantido por ele, e eu concordei.

P - Há algum poema de tua preferência em "Vidamundo"?
R -
Há mais de um. Os amigo, todos ótimos leitores, que os leram antes da edição também têm preferências e geralmente coincidimos. O soneto "A gaiola", por exemplo, chegou à presidente da Associação Internacional de Escritores e Artistas (IWA) por meio de um jornal editado no interior do RS. Ela o traduziu ao espanhol e o enviou aos associados espanhóis e hispano-americanos. Outro soneto, "Cravo-do-mato", é de preferência de alguns amigos, um dos quais ótimo poeta, e é um dos que considero interessantes. "As andorinhas", "Conversa com a mãe morta", "Vulto e sombra" são outros possíveis de citar. "Nazarena" foi escolhido e musicado por outro amigo...

P - Qual a tua métrica preferida ou a preferência por gênero poético?
R -
A métrica deve ser escolhida pela temática e pelo andamento do poema. Bons poetas, como Gonçalves Dias e Casto Alves, ensinam isso praticando. A métrica organiza o ritmo. O ritmo bem trabalhado pode ser muito sugestivo e imprimir significações e agradabilidades de outro modo inatingíveis. Wamosy, entre outros muitos, também foi muito hábil nisso. Quanto às espécies poéticas, creio que também devam ser fruto da temática e dos possíveis recursos técnicos aplicáveis a cada caso.

P - Como é o teu eu lírico?
R -
Já ensinou Donaldo Schüler que a literatura é reflexão sobre o mundo. A literatura, no entanto, tem marcas textuais próprias que a diferenciam de outras formas. O título Vidamundo procura dizer um pouco isso: pensamentos sobre a vida e o mundo (considerado o mundo que conhecemos), com marcas do que chamamos de literatura. A injustiça é imperativo impulso temático para pensarmos no mundo que ajudamos a construir. Para tentarmos conseguir arte, é necessário muito trabalho e cuidado.

P - Dois poemas em espanhol e um que remete a América Latina, trabalhando em alinhamento com nomes como Pablo Neruda ou Mario Benedetti. Fale-nos sobre a tua facilidade de construção de versos em espanhol.
R -
Os poemas escritos em espanhol foram possíveis, porque, ao elaborá-los, percebi que seriam mais expressivos assim do que em português, mas são apenas três. Quanto ao "Minha América Latina", é produto da minha indignação ao pensar sobre a colonização e as mentiras neocoloniais que nos impingem e sobre as quais calamos.

P - O que diferencia a boa da má poesia?
R -
Ao construir versos e depois montá-los em poemas, o elaborador deve pensar nas possíveis formas de recepção por parte dos leitores. Esse é o momento em que se criam os leitores virtuais, ou seja, os leitores a quem se imagina que se escreve. Sob esse ponto de vista, não há uma poesia boa e outra poesia má. Há leitores em vários estratos. Parece claro, porém, que os versos derramados, sem trabalho cuidadoso, acabam sendo lidos por poucos. Parece haver um nível mínimo de domínio teórico-técnico pra confecção de poemas comunicativos, sonoros, sugestivos, expressivos.

domingo, 17 de junho de 2012

CARMENÊUTICA (em redondilha maior)

Um poema em redondilha maior (versos de sete sílabas ou heptassílabos) criados para a disciplina de Poesia  do curso de Especialização em Literatura Brasileira - Escrita Criativa da Ufrgs. 






E este verbo se fez CARMEN
Habituou-se entre nós
Das profundezas, foi pélvico
Me encheu de fluídos ateus

Carmen, com uma carne ácida
Cheia de cartesianismo
Translúcida e imprópria
Mesmo aos menores desejos

Uva maturada aos pés
Vinho tácito e jocoso
Submissa e intrometida
Ávida, mas inconstante

Não sei definir o carmim
Que adorna a boca de Carmen
Que se armem os meus gritos
Que se espantem os arbítrios

Exaspero cedo demais
Separações mais me eriçam
Eu amei Carmen e este amor
Parece que nunca SAURA

Como a cigana daquela ópera
Sevilhana, doce e sedutora
Aquela porto-alegrense
Me tirou a raiz dos pés

Quem disse que cedi um milímetro
Não há nenhum MERIMEÉrito
Nesta minha teimosia trôpega
Sufraguei em vale de lágrimas

Vaguei, tateando entre sombras
Sempre em busca de outra musa
Carmentira, Carmenarquia
Sangue andaluz em terra açoriana

Morreu a música de BIZET
Acabou a esperança bizantina
Sofri calado, amei injuriado
Nunca fui e nunca serei

Hodiernamente, POEtizo
O drama operístico, sem sal
meio sem sono, sem sonetos
Vivo explanando em quadrinhas

Reminiscente, em esquinas
Um bardo inconsciente e cego
Os amores vêm e vão, espiral
Espero que voltem um dia

domingo, 10 de abril de 2011

Capitão Caserna


Estes dias estava fazendo a minha tímida corrida na pista do Ramiro Souto, na Redenção, em Porto Alegre, quando me deparei com os professores de Educação Física conduzindo suas aulas para alunos do Colégio Militar de Porto Alegre. Um detalhe me chamou atenção. Os alunos são chamados de Portela, Pereira, Ferreira, Souza etc (sobrenomes fictícios).
Na ótica da caserna, o sobrenome é que tem que ser valorizado. O militar é Karl Marx ou Nietzche? O sobrenome é que se sobressai no coletivo, prezar o nome do pai na luta pela Mãe Pátria. Na ótica da individuação, o exemplo militar estaria errado, pois o nome é o que importa, a essência de cada ser, não a carga genética que ele carrega, mas isto é papo para outro dia.
Coube a mim constatar que as pessoas têm nomes e devem ser tratadas por ele e não pelos sobrenomes. Um dia, algo vai mudar dentro dos quartéis, já está mudando por sinal, quando os militares partem em missões de paz ou são chamados para garantir a mínima segurança em locais nos quais a insegurança reina.

terça-feira, 8 de março de 2011

Velho Mundo inchado


A Europa é o destino da maioria dos refugiados de guerras civis e militares da África e da Ásia e também dos cidadãos destes mesmos continentes e dos latino-americanos em busca de salários em euros, apesar de serem em sub-empregos.
O Velho Mundo inchou. Ainda ontem, vi uma notícia de que mais de 6 mil líbios já chegaram à Itália, boa parte deles chegados à ilha de Lampedusa por meio de barcos, a embarcação preferida dos cubanos que chegam à Flórida. Atualmente, os cubanos têm deixados menos à ilha de Fidel, pois uma pequena abertura política está se verificando no regime cubano.
Como diz a música "Immigrant Song", do Led Zeppelin: "On we sweep / Wish treshing oar / Our only goal / will be the westernshore", algo como "Avante nós vamos / Com remos surrando / Nosso único objetivo / Será a costa oeste". Substituindo a costa oeste pela costa sul, os remos e motores estão sendo surrados. Estive em alguns lugares da Europa. A imigração interna do Mercado Comum Europeu é a que mais assusta. Romenos e búlgaros na França já foram objeto de lei de deportação por parte do presidente Nicolas Sarkozy. Em Sofia, os cidadãos búlgaros não querem os seus ciganos de volta. Em Paris, na Nôtre Dame ou Saint Chapelle, os romenos chegam junto mesmo com dizeres em um pedaço de papelão em inglês: pedindo ajuda, esmola mesmo. A situação é difícil.
Os países escandinavos que até o início deste século aceitavam todo e qualquer refugiado já mudaram o jogo. Estive na Finlândia em 2002 e lá a maior parte dos refugiados era vietnamita ou albanês. A Dinamarca já fechou suas portas. Portugal sofre com o inchaço a partir de filhos das suas colônias. Angolanos e moçambicanos lotam as Praças da Figueira e do Rossio, fazendo pequenos negócios, entre os quais o cãmbio de moeda é o principal. Na Espanha, os imigrantes africanos trabalham com produtos piratas. O filme "Biutiful", de Alejandro González Iñirratu, com Javier Bardem, mostra bem esta realidade em Barcelona, mas em Madri a presença destes grupos é enorme. Isto que não falei de Londres, onde os imigrantes são os tradicionais indianos e paquistaneses, mas todos os povos acorrem à grande metrópole da Europa.
Pois bem, o que fazer para conter este inchaço. As leis anti-imigração são cada vez mais abrangentes, mas não há como controlar. A sensação que se tem na Europa, mesmo quando se é turista é que se está em um barril de pólvora, no qual qualquer movimento vai detonar uma bomba ou manifestações hostis, enfrentamentos da população com o aparelho repressor do Estado. Esta é uma constatação que todos têm na Europa. Alguns fazem vistas grossas, outros se preocupam, mas nada podem fazer. O que eu posso fazer, nada também. Talvez, no futuro, escrever algo ou desenvolver uma tese em um mestrado ou doutorado em Comunicação ou outra ciência humana sobre o tema. Assim vivemos, administrando os barris de pólvora em mundos inchados, superpopulosos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

#novopostsobretrendingtopics


Uma pequena análise nos Trending Topics Brazil (por que esta grafia colonizada?) dá para ver que as pessoas não têm mais o que fazer da vida e que a criatividade no twitter está com os dias contados. O meu questionamento é sempre, se os TTs representam a tendência do pensamento na internet ou é só uma manipulação quantitativa dos tuiteiros, que têm tempo de colocar milhares de hashtags e deixar o seu tema preferido no topo?

Na manhã desta segunda-feira, os TTs são #penaltiprocam, sobre pênaltis considerados injustos que estão sendo marcados para o Atlético Mineiro e que alimentam a rivalidade Atlético-Cruzeiro em Minas Gerais e na rede social. Já o segundo TT é #abaixodecreto, trata do movimento contra a fixação do salário mínimo por decreto, mas novamente apela à polarização e atende aos interesses partidários e ao anti-petismo, mas pelo menos tem um pouco mais de consciência política (se bem que a metade dos tweets, com hashtags, são apenas para somar, sem qualquer mensagem verdadeira).

Outros Trending Topics mais politizados são #Líbia e #Bahrein, com os tuiteiros confiando no poder de mobilização pela internet que no Egito acabou atendendo os interesses da manipulação estadunidense do mundo, mas pelo menos ajudou a derrubar um ditador. Já #ThomYorke é um interessante TT pois os generosos Radioheads acabaram deixando vazar na internet os singles do álbum novo King of Limbs. O single #Lotus Flower também é trending provando que melancólica e pré-suicida banda ainda mexe com o público a cada novidade lançada. Eu, particularmente, gosto de Yorke e seus Radioheads.

Outro TT musical é Goodbye Lullaby que faz referência ao novo álbum da cantora pop e teen Avril Lavigne, que será lançado em março e já tem single na rede. Ela não é lá de se jogar fora em termos musicais. Outro TT de fãs é sobre o monstro pop chamado Lady Gaga: #QueenGaga. Sem comentários, mas a Lady Gaga é uma personalidade interessante. Ontem no Manhattan Connection foram feitas algumas referências de que ela se esforça para ser mais completa do que a Madonna, pois tem formação em música clássica, cênica e o escambau, coisa que a Madonna tem empiricamente.

Outros TTs poderiam ser comentados como o singelo #almoco, que convida ou comenta sobre o melhor momento da metade do dia. Outro dos 10 Top Ten dos TTs é #HappyBDayGioB, do qual eu não faço a menor ideia (#desculpemminhaignorancia), mas que tem mensagens pessoais e coisas íntimas que só o twitter poderia admitir, que seriam barrados em sites de relacionamento, namoros ou fóruns de discussão. Enfim, o twitter é um meio importante de informação e meio bobo, pois ele depende de quem tuita, mas eu sigo seguindo pessoas, jornais, revistas etc e muitos acabam me seguindo. #atéopróximopost